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segunda-feira, 18 de março de 2013

CONECTIVISMO - ENSINAR E APRENDER NO SÉC. XXI - Versão integral

CONECTIVISMO – Ensinar e Aprender no século XXI

RESUMO: Este artigo pretende oferecer uma visão genérica dos princípios do Conectivismo e das suas implicações na Educação, particularmente na Educação à Distância (EaD), a partir da revisão da literatura. É igualmente apresentada a visão da autora, simultaneamente, no prisma de professora do Ensino Básico e Secundário e no de e-estudante. As conclusões vão no sentido de que os princípios desta teoria se revelam em muitas das práticas dos professores do ensino formal não superior, embora inconscientemente, pelo que seria importante incluí-los explicitamente na sua formação inicial e contínua, para que ficassem mais despertos e os pudessem transmitir aos alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem, conectivismo, conhecimento, educação à distância

ABSTRACT: This article intends to present a global view of Conectivism principles and its implications on Education, particularly on Distance Education, from literary review. It is also presented the author’s insights, simultaneously, as a secondary teacher and as an e-student. Conclusions indicate that those principles are often present on teachers’ practices in formal secondary education, although unconsciously, which denotes the necessity to be explicitly included in initial and continuous teacher’s training, so they may become more aware and be able to pass them on to their students.

KEYWORDS: Conectivism, distance education, knowledge, learning

INTRODUÇÃO

A maioria das teorias da aprendizagem não considera a aprendizagem que ocorre fora das pessoas, que é armazenada e manipulada pela tecnologia. Preocupam-se com o processo da aprendizagem mas não com o valor do que é aprendido. Embora as pedagogias tenham acompanhado e se tenham adaptado à evolução da tecnologia, a certa altura as alterações introduzidas eram tais, que se tornou necessária uma nova abordagem (Siemens, 2004).
O conceito de Conectivismo surge com o intuito de procurar respostas para as expectativas e preferências dos estudantes do séc. XXI, em plena era digital. A alteração radical do paradigma tecnológico que envolve a sociedade atual, requer novas abordagens educacionais mais consonantes com as novas possibilidades que a tecnologia oferece à aprendizagem.
Ao longo do séc. XX várias teorias da aprendizagem tomaram corpo e foram alvo de análise por inúmeros autores das mais diversas áreas. Não havendo aqui lugar a uma abordagem profunda a essas teorias, importa referi-las sucintamente para que se possam compreender os fundamentos do Conectivismo. Assim, começamos por fazer uma análise das teorias cognitivo-
-behavioristas e socioconstrutivistas considerando o destaque dado ao papel do aprendente, do conteúdo e do professor, em cada uma delas, como Anderson e Dron (2011) propuseram.
A visão aqui apresentada é de que os princípios do Conectivismo estão subjacentes a muitas das estratégias utilizadas pelos estudantes e pelos professores do ensino básico e secundário, embora de forma inconsciente relativamente ao conceito. Sendo esta uma prática generalizada, seria interessante incluir na formação, inicial e contínua, de professores a perspectiva do Conectivismo, de forma a alertar estes professores para os benefícios da promoção destes princípios e para a necessidade urgente de preparar para o Aprender a Aprender, no novo paradigma sociocultural e educacional. Uma vez que vivemos a era dos digital natives (Prensky, 2001a; 2001b), seria também interessante aproveitar as capacidades desenvolvidas por esta nova geração para fomentar precocemente uma nova visão da educação e, porque não, saber a opinião dos estudantes sobre o assunto.

TEORIAS COGNITIVO-BEHAVIORISTAS E SOCIO-CONSTRUTIVISTAS

Segundo Anderson e Dron (2011), as teorias cognitivo-behavioristas consideram a aprendiza-gem como um processo individual, com objetivos e processos previamente bem definidos, independentemente do aprendente e do contexto de estudo. Na EaD, a presença do professor era reduzida, fazendo-se notar, inicialmente, apenas através da palavra escrita, fornecendo ou indicando documentação impressa para leitura e estudo. A interação entre estudante e professor ocorre apenas em situação de um-para-um, por escrito, por telefone ou ocasionalmente “ao vivo” mas, de um modo geral, só é pressuposta para indicações e avaliação. Assistimos, portanto, a um modelo de educação tradicional em que o professor transmite conhecimentos académicos e o aluno recebe-os passivamente devendo assimilá-los e demonstrar a sua aprendizagem através da alteração de comportamentos observáveis, privilegiando-se, desta forma o Aprender a Fazer. Este paradigma revelava-se adequado ao modelo de Educação à Distância da época, devido às limitações da tecnologia então existente.
Anderson e Dron (2011) referem que, nas teorias socioconstrutivistas, a enfase do processo de ensino-aprendizagem passa do conteúdo para o aprendente e o meio social que o rodeia. Tendo estas teorias sido desenvolvidas paralelamente às tecnologias da comunicação bidirecional, é natural que tenham ganho expressão com o alargamento das tecnologias que permitem a comunicação de muitos-para-muitos. Promove-se o envolvimento ativo dos aprendentes, o conhecimento é construído em interação com os pares, através da experimentação, com tarefas reais em contextos autênticos, com mediação do professor que é um guia e um construtor de intervenções educacionais. Cada aprendente cria meios para construir o seu conhecimento e integrá-lo com o conhecimento pré-existente, com o apoio e a colaboração do professor, tornando-se mais importante o processo de construção do conhecimento do que o resultado final.

O CONECTIVISMO – O CONCEITO

O Conectivismo é um quadro teórico para a compreensão da aprendizagem, desenvolvido por George Siemens e Stephen Downes (Kop & Hill, 2008). Baseia-se num modelo construtivista com o aprendente no centro do processo de aprendizagem. Segundo Anderson e Dron (2011), a presença do professor desenvolve-se através da construção de caminhos de aprendizagem e pela promoção e apoio às interações para que os aprendentes façam conexões a existentes e novos recursos de aprendizagem; professores e aprendentes colaboram para criar o objeto de estudo e, no processo, recriam esse objeto para futura utilização por outros. O importante não é saber, mas sim saber onde procurar, criar e manter conexões que permitam encontrar o conhecimento necessário e saber mobilizá-lo para utilização em situações concretas, assim como criar e partilhar novos recursos de aprendizagem que sirvam outros aprendentes. Como diz Siemens (2004): “Knowing where to find information is more important than knowing information.” No Conectivismo, as conexões que nos permitem aprender são mais importantes que o nosso estado atual de conhecimento: “What we know is less important than our capacity to continue to learn more. The connections we make (between individual specialized communities/bodies of knowledge) ensure that we remain current. These connections determine knowledge flow and continual learning.” (Siemens, 2003).
O Conectivismo não substitui as teorias cognitivo-behavioristas e socioconstrutivistas, antes as complementa e adapta à nova realidade tecnológica. Aliás, Anderson e Dron (2011) defendem que todas as três teorias de aprendizagem referidas se complementam para abarcar o universo das necessidades e expetativas de aprendizagem dos aprendentes do séc. XXI.
Reconhecendo a ligação indissociável entre o estado atual da tecnologia e a teoria conectivis-ta, é fácil perceber por que razão ela defende que o conhecimento está distribuído nas pessoas e na tecnologia, sendo a aprendizagem o processo de estabelecer conexões em rede, mantê-las e mobilizá-las de acordo com as necessidades (Siemens & Tittenberger, 2009). A noção de conhecimento distribuído é referida por Downes (2005) acrescentando uma nova categoria de conhecimento - distributed knowledge - o qual pode ser descrito como conhecimento conectivo: o que resulta das conexões estabelecidas, ou seja, aquele que conduziu à produção de novo conhecimento por outrem, através da rede de conexões. Deste modo, a aprendizagem, reconhecida como conhecimento acionável, pode residir fora dos indivíduos, e até em dispositivos não humanos (Siemens, 2004) e requer várias competências: a compreensão de que as decisões são tomadas sobre uma realidade em constante mutação, a capacidade para sintetizar e reconhecer ligações e padrões, para selecionar a informação relevante e atual e para reconhecer quando a nova informação altera os cenários sobre os quais se tomaram decisões (idem).
Sendo o ponto de partida do Conectivismo o individuo, o ciclo do conhecimento, do individuo para a organização, para a rede e de novo para o individuo, permite a constante atualização através das conexões constituídas (idem).
Downes (2005) afirma que aprender é o processo de se tornar algo. Também Cormier (2011) refere que conhecer é um longo processo em que o modo como o individuo perceciona as coisas se altera, baseado em novos conhecimentos, conduzindo à mudança e ao crescimento pessoal, refletindo aqui o princípio do Aprender a Ser.

CONECTIVISMO NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Na Educação à Distância, o Conectivismo parece ser um caminho óbvio, dadas as possibilida-des criadas pelo avanço da tecnologia. A informação é inesgotável e o papel do aprendente não é memorizar e perceber tudo, mas encontrar e aplicar conhecimento onde e quando for necessário (Anderson & Dron, 2011), pelo que o estabelecimento de redes de aprendizagem e a comunicação síncrona e assíncrona são ferramentas indispensáveis proporcionadas, agora, com muito mais simplicidade e eficácia, pela Web 2.0. Os modelos conectivistas assentam na omnipresença na rede das pessoas, dos artefactos e do conteúdo (idem) para análise e discussão, reutilização, transformação e redistribuição.

CONECTIVISMO NOS NÍVEIS DE ENSINO FORMAL NÃO SUPERIOR

A perspetiva do Conectivismo foca-se nas aprendizagens informais, no Ensino Superior e na Aprendizagem ao Longo da Vida, mas as questões ligadas a esta teoria parecem ter também pertinência noutros níveis de ensino, nomeadamente no terceiro ciclo e ensino secundário, dada a nova geração de digital natives (Prensky, 2001a e 2001b) - e às novas competências cognitivas que estes desenvolveram graças às novas tecnologias, como o multitasking (Prensky, 2001b).
Enquanto professora do ensino básico e secundário, a minha experiência de vinte anos de ensino é testemunha das alterações que têm vindo a ocorrer nas preferências, expetativas e competências das novas gerações de estudantes. Estes têm, agora, a informação ao alcance de um clique e de forma mais apelativa e, na verdade, estabelecem as redes e procuram a informação do seu interesse. Essencial é preparar os estudantes para a urgente necessidade de Aprender a Aprender, alcançada através das competências referidas por Siemens (2004), atrás mencionadas.
Como Kop & Hill (2008) referem, Downes e Siemens não limitam o Conectivismo ao ambiente online nem reduzem as redes de comunicação aos ambientes digitais. A tecnologia apenas facilita a sua construção e a comunicação.

CONCLUSÃO

Compreender os princípios do Conectivismo, não é mais do que dar nomes a muitas das ações, estratégias e objetivos já existentes na prática dos estudantes e professores no ensino formal não superior. Importa agora alertá-los para que tomem consciência de esse é o modelo da Educação do futuro. Por outro lado, o Conectivismo fomenta o valor do individuo enquanto fonte de conhecimento e elo de ligação na rede. Nos tempos difíceis que atravessamos, poderá advir uma era em que se reconheça a riqueza do individuo, em vez do indivíduo/número?
Como estudante em regime de EaD, é minha constatação de que efetivamente, o estabeleci-mento de conexões na rede é imprescindível para a atualização constante do conhecimento, dado o encurtamento do seu ciclo de vida, pois rapidamente nos apercebemos que estamos em permanente processo de atualização e isto é tão válido para adultos, como para adolescentes e jovens.

REFERÊNCIAS


  • Anderson, T. & Dron, J. (2011). Three generations of Distance Education Pedagogy. Internac-ional Review of Research in Open and Distance Learning, vol. 12, nº 3. Acedido 17 março 2013, em: http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/890
  • Connole, G. (2010). Review of pedagogical models and their use in e-learning. Acedido 17 março 2013, em: http://www.slideshare.net/grainne/pedagogical-models-and-their-use-in-elearning20100304
  • Cormier, D. (2011). Rhizomatic Learning – Why we teach? Acedido 17 março 2013, em: http://davecormier.com/edblog/2011/11/05/rhizomatic-learning-why-learn/
  • Downes, S. (2005). An introduction to Connective Knowledge. Acedido 17 março 2013, em: http://www.downes.ca/post/33034
  • Downes, S. (2006). Learning Networks and Connective Knowledge. Acedido 17 março 2013, em: http://itforum.coe.uga.edu/paper92/paper92.html
  • Downes, S. (2007b). How the net works. Acedido 17 março 2013, em: http://www.downes.ca/cgi-bin/page.cgi?post=42068
  • Downes, S. (2007a). What connectivism is. Acedido 17 março 2013, em: http://halfanhour.blogspot.pt/2007/02/what-connectivism-is.html
  • Kop, R. & Hill, A. (2008). Connectivism: Learning Theory of the future or vestige of the past? Internacional Review of Research in Open and Distance Learning, vol. 9, nº 3. Acedido 17 março 2013, em: http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/523/1103
  • Prensky, M. (2001a). Digital Natives, Digital Immigrants. In On the Horizon (MCB University Press, Vol. 9 No. 5, October 2001. Acedido 17 março 2013, em: http://www.marcprensky.com/writing/prensky%20-%20digital%20natives,%20digital%20immigrants%20-%20part1.pdf
  • Prensky, M. (2001b). Digital Natives, Digital Immigrants Part II: Do They REALLY Think Differ-ently? — Neuroscience Says Yes. In On the Horizon - NCB University Press, Vol. 9 Nº 6. Acedido 17 março 2013, em: http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part2.pdf
  • Siemens, G. (2003). Learning Ecology, Communities, and Networks - Extending the classroom. Acedido 17 março 2013, em: http://www.elearnspace.org/Articles/learning_communities.htm
  • Siemens, G. (2004). Connectivism: a Learning Theory for the Digital Age. Acedido 17 março 2013, em: http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm
  • Siemens, G. (2008). New structures and spaces of learning: The systemic impact of knowledge, connectivism and networked learning. Acedido 17 março 2013, em: http://elearnspace.org/Articles/systemic_impact.htm
  • Siemens, G. & Tittenbeger, P. (2009). Handbook of Emerging Technologies for Learning. Acedido 17 março 2013, em: http://elearnspace.org/Articles/HETL.pdf

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