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domingo, 30 de dezembro de 2012

Teorias da aprendizagem, pedagogia do e-learning e papel do professor online

Na UC de Processos Pedagógicos em E-Learning, foi pedido que elaborássemos um artefacto que demonstrasse o nosso conhecimento sobre as teorias pedagógicas em E-learning e o papel do professor on-line. Parece-me que o artefacto que construímos reflete o que foi solicitado.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Afinal o que é o Digital Storytelling? Porque devo usar as licenças Creative Commons?



Como todos sabemos, contar histórias (story telling) é uma prática ancestral e terá mesmo sido outrora, a principal forma de transmissão do conhecimento entre gerações. Atualmente, talvez pretendendo manter a tradição mas adaptando-a à era digital, o Digital Storytelling é uma técnica que pode ser utilizada no ensino e que consiste em pedir aos estudantes que contem uma história, utilizando ferramentas digitais, em formato de vídeo. Para que essa prática se revele eficaz, Lambert (2010) identificou os seguintes sete pressupostos:

1 – A história deve ser contada na primeira pessoa, a partir das suas experiências;
2 – A história deve partir de uma questão que só será resolvida no seu final;
3 – A história deve provocar emoções na audiência;
4 – A duração do vídeo deve ser entre dois e quatro minutos;
5 – A cadência do desenrolar da história deve ser adequada ao seu conteúdo, mais lento ou mais rápido conforme exigirem os acontecimentos descritos;
6 – A inclusão da gravação da voz do “produtor” do vídeo permite imprimir emoção ao conteúdo descrito e envolve os estudantes, dando-lhes um sentimento de posse do seu artefacto;
7 – A banda sonora é opcional na produção do vídeo mas, utilizada adequadamente, valoriza o produto final, podendo, não só acrescentar conteúdo, como fazer parte da própria história.

Na produção deste tipo de artefactos há sempre que ter em conta os direitos de autor, quer na utilização de músicas como de imagens e mesmo de ferramentas. O que nos leva à nossa segunda questão:

As licenças Creative Commons permitem saber qual a utilização permitida para a maioria dos artefactos encontrados na Web. Os produtos podem estar totalmente protegidos contra utilização e divulgação, podem ser autorizados para fins não comerciais, pode ser dada autorização apenas para divulgação, mas não para edição, só para fins educacionais ou podem ser de uso totalmente livre. Embora as licenças Creative Commons não garantam a liberalização dos direitos de utilização e divulgação (é sempre bom confirmar!), o web site da CC oferece uma galeria diversificada de recursos agregados por categorias. Embora a tendência seja para a liberalização dos conteúdos, os países têm diferentes políticas de proteção dos direitos de autor, que a Creative Commons tem vindo a considerar. Para a educação, a liberalização dos conteúdos é, sem dúvida, um benefício importante, alargando o acervo disponível e permitindo uma verdadeira partilha do conhecimento. No entanto, nesta fase inicial do nosso trabalho, colocam-se, ainda, algumas dúvidas, que nos foram colocadas em forma de desafio na UC de Ambientes Virtuais de Aprendizagem:

“ - Quando publicamos algo original, devemos atribuir-lhe uma licença?
   - Quando partilhamos algo nosso, sem nenhum tipo de licença, passa a ser domínio público?
   - O que fazer, quando não queremos ceder direito?”


Referências:


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Personal (Digital) Learning Environment

Na minha perspectiva, um PLE será o conjunto de todas as situações, ferramentas e serviços que um indivíduo utiliza no seu processo de aprendizagem, consciente ou inconscientemente, em contexto formal, não formal ou informal. Neste sentido, as aprendizagens ocorridas em interação social presencial ou através de livros ou outros documentos físicos, farão também parte do meu PLE. Por essa razão, preferi chamar ao que apresento abaixo, o meu Personal Digital Learning Environment.
Num individuo extremamente organizado, poderíamos esperar que se pudesse representar o seu PLE pelo Desktop do seu PC e pela barra de favoritos do seu browser, mas isso poderia não ser suficiente. Afinal, o desktop é um espaço personalizável à medida do seu utilizador, assim como a barra de favoritos, o que personifica a concepção de PLE, amplamente discutida e que, apesar de alguns consensos, apresenta também “… uma diversidade de perspectivas e enfoques que tornam difícil chegar a uma única definição estável e que albergue toda essa diversidade.” (Mota, 2009).
O esquema abaixo apresentado está organizado segundo 6 perspetivas do meu processo de aprendizagem: pesquisa, partilha, comunicação, debate, construção de artefactos e armazenamento da informação. Cada perspetiva apresenta as ferramentas ou serviços utilizados normalmente para cada fim específico.




REFERÊNCIAS:
Mota, José (2009). Personal Learning Environments: Contributos para uma discussão do conceito. In Educação, Formação & Tecnologias, vol.2 (2); pp. 5-21, Novembro de 2009. Disponível em: http://eft.educom.pt/index.php/eft/article/view/105/66.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

15 coisas que serão obsoletas na Educação até 2020

Perspetiva interessante que encontrei num blogue:


15 coisas que serão obsoletas na Educação até 2020

Os próximos 10 anos serão de mudanças profundas na Educação, a todos os níveis. Nada que tenha a ver com a crise que vivemos, mas com a revolução digital que se acelera todos os dias.
Há cerca de um ano, a escritora Shelley Blake-Plock publicou um artigo no seu blogue Teacher 2.0, intitulado, “21 Things That Will Become Obsolete in Education by 2020″. Mais adaptado à realidade portuguesa, selecionei e adaptei 15 tópicos que vão no mesmo sentido. Talvez ajude a ultrapassar a depressão portuguesa de 2012 e 2013. Sem cinismo.

1. Mesas
O século 21 não se encaixa nada em mesas alinhadas. A educação vai reforçar os conceitos baseados em redes de fluxos, colaboração e dinamismo que vão reorganizar o espaço das aprendizagens, tornando obsoletas as filas de mesas e cadeiras características das nossas salas de aula fabris.

2. Laboratórios de Línguas
A aprendizagem de um língua estrangeira vai estar (já está, para quem quiser) à distância de um smartphone. Mais espaço disponível nas escolas.

3. Computadores
As salas de computadores, muitas vezes encostados às paredes, serão como que peças de museu. Os portáteis, tablets, smartphones e outros dispositivos vão limpar os velhos ecrãs, as torres e os emaranhados de fios. Mais espaço.

4. Trabalhos de casa
A educação será pensada e trabalhada 24 horas por dia, 7 dias por semana. Os limites tradicionais entre a escola e a casa tenderão a desaparecer. Como disse alguém, não precisamos de crianças para irem à escola; precisamos delas para aprenderem mais. A aprendizagem será contínua e em movimento. (ver o ponto 3).

5. Instrução massificada
Nos próximos 10 anos o professor que não souber utilizar a tecnologia para personalizar e diferenciar a aprendizagem dos seus alunos será “carta fora do baralho”. A diferenciação será tão natural como respirar. O professor de massas acabou.

6. Medo da Wikipedia
Wikipedia é a maior força democratizante no mundo actual. Se os professores têm receio em deixar os alunos utilizá-la, está na hora de olhá-la de frente sabendo que com este ou outro nome a Wikipedia vai continuar a crescer exponencialmente. Talvez esteja na hora de cada um também dar o seu contributo.

7. Manuais em papel
Os livros são agradáveis, mas, daqui a dez anos, toda ou quase toda a leitura será feita através de meios digitais.

8. Cadernos, lápis, canetas… papel
Provavelmente não vão acabar, mas com toda a certeza vão diminuir e muito na quantidade. As crianças aprenderão a escrever e a desenhar em dispositivos digitais e a grande maioria dos trabalhos, testes e exames poderão ser feitos da mesma maneira. A floresta agradece. Quem não perceber e se adaptar… desaparece.

9. Pastas
Já hoje, em muitas das nossas escolas, que necessidade têm as crianças e os jovens de andarem com bolsas pesadas às costas com custos associados à sua saúde? Com livros e cadernos digitais… as pastas escolares serão cada vez menos pesadas até desaparecerem. As colunas vertebrais agradecem.

10. Departamentos TIC
Um fim à vista. As TIC não serão uma especialidade. As TIC serão a realidade, as ferramentas essenciais de todos os professores e educadores. Todos os agentes da educação e formação terão competências TIC elevadas. Com a afirmação do “Cloud Computing”, a qualidade e aumento da cobertura sem fios e o acesso via satélite, coisas agora “tão importantes” como software, segurança e conectividade serão coisas do passado.

11. Instituições centralizadas
Os edifícios escolares vão transformar-se em centros de aprendizagem e não em locais onde toda a aprendizagem acontece. Os edifícios serão menores, os horários dos professores e alunos irão mudar para permitir que menos pessoas estejam na escola de uma só vez, abrindo caminho a um ensino mais experimental, vivencial, fora do ambiente escolar.

12. Níveis de ensino
A educação vai tornar-se mais individualizada, abandonado significativamente a estrutura dos níveis de ensino tal como os conhecemos hoje. Os alunos serão associados por interesses, seguindo cada um uma aprendizagem especializada. (ver ponto 5)

13. Escolas e professores “atecnológicos”
Escolas e professores que não utilizem as tecnologias estarão condenados ao fracasso. As primeiras a fechar. Os segundos a mudar de profissão.

14. Normas Curriculares
As normas curriculares actuais integram enormes bloqueios à diferenciação da aprendizagem, imagem de marca da educação do futuro. A raiz da mudança curricular será as escolas do ensino básico como fornecedoras de conteúdos fundamentais e as dos níveis superiores com a oferta de aprendizagens especializadas.

15. Reuniões de pais e professores à noite
As ferramentas já hoje disponíveis para comunicação virtual tornarão as reuniões “físicas” uma raridade. De uma forma ou de outra, os pais vão obrigar a escola a utilizar a tecnologia para comunicar. Não vá. Ligue-se.


Fonte: http://www.professortic.com/2011/12/15-coisas-que-serao-obsoletas-na-educacao-ate-2020/

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Personal Learning Environment – Bibliografia anotada




Attwell, G. (2007). Personal Learning Environments - the future of eLearning?.  ELearning Papers Vol 2, Nº 1, January 2007. Disponível em: http://www.elearningeuropa.info/files/media/media11561.pdf

Descrição: Artigo sobre o papel central dos personal learning environments (PLE’s)  na aprendizagem do futuro, sendo uma questão pedagógica e não técnica, embora reflexo da evolução tecnológica. Os PLE’s são uma nova abordagem da utilização das TIC na educação e revolucionam o papel dos professores e dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem.
O autor refere a questão da validação da aprendizagem informal já reconhecida pela maioria dos países europeus que encontraram formas para efetuar o seu reconhecimento, considerando que a aprendizagem formal representa apenas 20% das aprendizagens adquiridas para o desempenho profissional. Apesar disso, tem sido dada pouca importância a este tipo de aprendizagens no âmbito das tecnologias da educação. Em contraponto, os PLE’s vêm permitir a inclusão de todo o tipo de aprendizagens e de todos os estilos de aprendizagem, uma vez que é personalizado pelo próprio estudante consoante as suas necessidades e expectativas. A utilização das ferramentas da Web 2.0 veio facilitar a partilha, a pesquisa, a produção de artefactos, a discussão, o trabalho colaborativo, tudo como forma de construção de conhecimento. O estudante constrói o seu PLE, escolhendo as ferramentas e os serviços que considerar adequados ao seu processo de aprendizagem, seguindo as orientações do professor ou na perspetiva da aprendizagem autodirigida, mas sob o seu controlo. Os PLE’s conferem mais responsabilidade e mais autonomia aos estudantes e conjugam o papel das escolas com o mundo exterior, real.
O autor refere ainda várias instituições de ensino e empresas que incentivam os seus estudantes e trabalhadores a utilizarem ferramentas da Web 2.0, nomeadamente os blogues, como forma de aprendizagem na ótica do trabalho colaborativo.

Avaliação: Este artigo é bastante claro quanto ao papel dos PLE’s no novo paradigma educacional, reflexo do novo paradigma social.
A sociedade atual coloca no individuo a responsabilidade pela manutenção da sua empregabilidade, obrigando-o a seguir o ritmo alucinante da evolução tecnológica. Nestas circunstâncias, a perspetiva da aprendizagem ao longo da vida torna-se uma questão premente. Habilitar os estudantes a saberem construir o seu percurso de aprendizagem é fornecer-lhes ferramentas para, no futuro, poderem continuar a sua formação de forma autónoma e responsável.

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Nascimento, M. A. (2012). Personal learning environments: um pretexto para (re)pensar a aprendizagem em plataformas digitais. In Monteiro, A., Moreira, J. A. & Almeida, A. C. (2012). Educação Online: pedagogia e aprendizagem em plataformas digitais (pp. 97-109). Santo Tirso: De Facto Editores.

Descrição: Capítulo VI do livro referenciado. A autora pretende questionar, fundamentar e clarificar a mudança que o modelo de personal learning environments (PLE’s), em conjunto com a Web 2.0 e o e-learning 2.0, está a causar no paradigma de ensino e aprendizagem. Começando por apresentar uma conceção de PLE a autora verifica, apesar da diversidade de perspetivas, existir uma tendência para “… a enfâse na reunião das componentes humana (pessoas e comunidades) e material (ferramentas e recursos) interagindo de um modo informal e solto.” (p. 98). Desta forma, os PLE’s apresentam a vantagem de integrar “… aprendizagens formais e informais, interesses pessoais e profissionais, trabalho individual e colaborativo…” (p. 98) ao mesmo tempo que “… permite diferentes tipos de concretização e implementação, articulando com variadas abordagens pedagógicas.” (p.98).

É apresentada a construção do PLE como o primeiro passo para a criação de redes pessoais e profissionais de aprendizagem que procuram desenvolver nos sujeitos capacidades e competências e que se suportam na sua motivação para uma participação ativa e continuada, na perspetiva da aprendizagem ao longo da vida como resposta às exigências da sociedade atual.
Tendo em vista este objetivo, a autora considera que o conceito de self directed learning (SDL - aprendizagem autodirigida) é fundamental. Sobre este conceito, são destacadas três dimensões: a dimensão psicológica que remete para o controlo psicológico sobre a própria aprendizagem e que envolve aspetos da personalidade, de motivação, processos cognitivos e metacognitivos; a dimensão pedagógica que controla o processo de aprendizagem e a dimensão social que congrega variáveis contextuais, situacionais e interações em contextos informais ou formais. Verifica-se também que a autodiretividade da aprendizagem requer uma determinada maturidade cognitiva mais frequentemente encontrada nos adultos e em sujeitos com elevado nível de instrução, o que conduz à importância da promoção  da autodiretividade na aprendizagem e da personalização do ensino e da aprendizagem, fundamento dos PLE’s.
Os papéis e as tarefas de e-moderação e de e-mediação são fatores cruciais para o sucesso da implementação de comunidades de aprendizagem online. Deste modo, as características dos ambientes de aprendizagem, os aspetos motivacionais, as literacias e capacidades exigidas, as atividades a desenvolver e as questões com a autoria, a privacidade e a ética, são domínios a ter em conta para criar ambientes com componentes e condições favoráveis ao crescimento cognitivo dos aprendentes. A acrescer a estes fatores a autora refere dois outros aos quais o aprendente deve dar atenção: a dimensão semiótica, relativa à forma de disseminação da informação, ferramentas e formatos utilizados, forma de armazenamento e a dimensão económica, que diz respeito ao valor do conhecimento e à relação custo-benefício, tão importante na atual sociedade de matriz financeira. Relativamente a este aspeto, há que questionar a desvalorização da aprendizagem informal não certificada e insistir na questão da avaliação como meio de validar aprendizagens e assim valorizá-las, no sentido de adquirirem valor económico para o individuo, o que lhe permitirá tomar decisões informadas sobre o que, quando e como aprender.

Avaliação: Artigo bastante atual sobre o conceito de personal learning environment.
Destaco duas questões abordadas: a questão da aprendizagem autodirigida como instrumento da construção de um PLE e a questão da atribuição de valor económico ao conhecimento. Relativamente à aprendizagem autodirigida, considero relevante a necessidade da personalização do ensino e da aprendizagem, uma vez que o adulto, tendo a consciência do que quer e para quê, encontra-se muito mais motivado para a aprendizagem num ambiente que vá de encontro às suas aspirações e expectativas, construindo-o à medida das suas necessidades. Ao atribuir significado às suas aprendizagens, constrói o seu conhecimento.
No que se refere à atribuição de valor económico ao conhecimento, este é mais um fator de motivação para o sujeito. Sendo uma constatação da realidade dos factos e do funcionamento da sociedade capitalista em que vivemos, conferir carga económica ao conhecimento é uma constatação bastante triste…



domingo, 9 de dezembro de 2012

Cibercultura - uma reflexão em torno do conceito de Pierre Levy



O conceito de cibercultura do filósofo francês Pierre Levy articula-se à volta de duas noções genéricas que o autor explica ao longo da obra “Cibercultura”: o universal sem totalidade, em que o autor considera ser esta a essência da cibercultura.
Ao longo da explicação apresentada, deparamo-nos com outros conceitos e dualidades necessários para construir o de cibercultura: ciberespaço, inteligência coletiva, virtual versus real.
Considerando o ciberespaço, como um espaço não tangível de transmissão, pesquisa, partilha, discussão, aprendizagem e recolha de informação de toda a espécie (texto, imagem, som…), podemos compreender que o virtual não substitua o real mas sim que o complete e ajude a transformar.  A capacidade de partilha de informação criada pela tecnologia da comunicação em linha, através de redes de computadores dispersos pelo mundo, abre possibilidades infinitas à reconstrução constante do conhecimento, conferindo à cibercultura o seu carácter universal, por um lado e retirando-lhe a totalidade, por outro, devido à persistência da atualização do conhecimento. O conhecimento torna-se mais democrático e ao serviço dos cidadãos, permitindo uma maior participação e maior transparência nas políticas públicas que os afetam.
Levy (2000, p. 132) , ao referir: “… três princípios orientaram o crescimento inicial do ciberespaço: a interligação, a criação de comunidades virtuais e a inteligência colectiva.”, sistematiza a evolução que a técnica proporcionou à cultura, alterando radicalmente os paradigmas educacionais, sociais, culturais, económicos e políticos. Sendo a utilização da Internet um pólo de partilha de opiniões livre de censura - seja política, religiosa ou outra – os utilizadores tendem a agrupar-se em fóruns de discussão ou outros espaços virtuais que abordem temas de interesse comum. A utilização da rede para fins ilícitos ou desadequados no contexto, representa uma franja marginal, que podemos considerar um efeito secundário, difícil de evitar mas que é também frequentemente autocontrolado pelos próprios utilizadores que criaram espontaneamente uma netiqueta, conjunto de normas de utilização dos fóruns e dos espaços existentes, que regula intervenções desapropriadas e denuncia intenções de carácter duvidoso.
A velocidade a que ocorrem as mudanças tecnológicas, torna este livro um pouco desatualizado quando refere meios técnicos e formas de interatividade. O fenómeno das redes sociais, por exemplo, teve uma disseminação massificada posterior à edição do livro, sendo precisamente o reflexo dessa evolução da criação de comunidades onde os cidadãos se mantêm em contacto.
Atentemos no caso do Facebook: a maior rede social do mundo atingiu em outubro deste ano o número impressionante de mil milhões de utilizadores, espalhados por todo o mundo. Isto representa um sétimo da população mundial ligada em rede, com a possibilidade de partilhar as suas competências pessoais e profissionais e colocá-las ao serviço de quem as quiser utilizar e, com isso, enriquecer e criar novo conhecimento. Até já os governos adotaram essa forma de se comunicarem com os cidadãos, salvaguardados os devidos juízos de valor relativos a essa forma de atuação. No Facebook criam-se inúmeros grupos abertos, fechados, secretos, comunitários, de empresas ou instituições,… em que supostamente os seus membros partilham interesses em comum e têm a possibilidade de trocar pontos de vista, partilhar informação das mais diversas formas construindo, assim, novos conhecimentos. O próprio criador do Facebook, Mark Zuckerberg, escreveu em 2 de dezembro de 2009, no blogue que mantém no Facebook, “…make the world more open and connected.”
É a interação entre estas comunidades construídas num espaço virtual através das redes digitais que vai progressivamente construindo a inteligência coletiva mundial, conferindo-lhe um carácter dinâmico sempre aberto e servindo simultaneamente de memória coletiva da humanidade.
Se pensarmos no caso, por exemplo, do Google Earth, as possibilidades que oferece de identificação de locais, de procurar endereços, de medição de distâncias entre dois pontos, visualização de locais a três dimensões, comparação de imagens do mesmo local ao longo do tempo, são inúmeras e universais. Os utilizadores podem partilhar e identificar na rede, locais que visitaram ou onde habitam com indicações úteis sobre alojamento, serviços locais e apreciações gerais, sempre na perspetiva da partilha da informação, oferecendo a outros a possibilidade de encontrarem informação sobre locais que desejem visitar, por exemplo. Trata-se, no fundo, de uma base de dados online, em que as atualizações são visíveis praticamente em tempo real, bastando atualizar a página.
Esta possibilidade de aumentar o acervo do conhecimento humano é complementada pelo correio electrónico que permite a comunicação um-para-um, um-para-todos, personalizando a troca de informação entre o emissor e o(s) receptor(es), permitindo a criação de mailing lists, anexação de ficheiros de vários tipos, acessível agora, ao contrário do que acontecia à data do livro de Lévy (pelo menos, em Portugal e de forma massificada como hoje), até através do telemóvel, a qualquer hora, em qualquer parte do mundo.
E tudo na ótica da complementaridade do virtual com o real, pois um não substitui o outro, antes o publicita, completa e tenta atuar sobre ele, na perspetiva de melhorar a vida das pessoas. Como refere Lévy (2000, p. 232): “É muito raro que uma nova forma de comunicação ou de expressão suplante completamente as antigas. Fala-se menos desde que a escrita foi inventada? É evidente que não. (…) A escrita não fez desaparecer a palavra, ela tornou mais complexo e reorganizou o sistema de comunicação e de memória social.”.

Referências:
Lévy, P. (2000) Cibercultura. Lisboa: Piaget.